Primeiro dia da greve garante 70% do transporte coletivo

Trabalhadores da TCCC e Cidade Verde lutam contra corte de direitos e achatamento salarial em tempos de pacote de arroz a quase R$ 40

Sem abertura ao diálogo por parte das empresas TCCC e Cidade Verde, que operam o transporte coletivo urbano e metropolitano, respectivamente, o Sindicato dos Motoristas Rodoviários de Maringá (Sinttromar) realiza, nesta quarta-feira (16), o primeiro dia de greve da categoria. Desde a zero hora, o movimento paredista tem paralisado várias linhas, sem exceder os limites impostos pela Lei de Greve (Lei 7.783/1989) e decisão liminar da Justiça.

Assembleia em frente à garagem sul da TCCC ações definidas para o primeiro dia de greve – Foto: Alessandro Derenzo/Sinttromar

Motivada pela luta contra a perda de direitos e achatamento salarial, a paralisação iniciou após o prazo legal de 72 horas do comunicado formal às empresas e de panfletagem à população. Pela manhã, os atos de greve ocorreram, principalmente, no Terminal Intermodal e nas garagens das companhias. Todas as manifestações – asseguradas aos grevistas pela Constituição Federal – foram conduzidas de forma pacífica.

Às vésperas da greve, TCCC e Cidade Verde recorreram à Justiça na tentativa de impedir manifestações e de obrigar o sindicato a manter 90% da frota em circulação. Os pedidos foram negados pela desembargadora Ilse Marcelina Bernardi Lora, que assegurou o direito de greve, determinando a manutenção de 70% do contingente de motoristas e cobradores em atividade.

Segundo o dirigente sindical Emerson Viana Silva, o Sinttromar está garantindo mais que os 70% determinados pela Justiça, baseado em estimativas da própria entidade. Segundo Viana, o sindicato notificou as empresas para que apresentassem planilhas com os números exatos de frota e trabalhadores na ativa, no entanto, a solicitação foi negada.

Como a liminar na Justiça baseia no número de motoristas (e não de ônibus), a entidade sindical suspeita que diretores das empresas estejam inflando as planilhas para alegar que o Sinttromar não está cumprindo a decisão judicial. A TCCC apresentou número de 450 motoristas na ativa, o que não tem embasamento na realidade. Eram 135 carros rodando ontem [véspera da greve], o que dá aproximadamente 175 motoristas no exercício da função”, comentou Viana.

No caso da Cidade Verde, os números, aparentemente, também foram inflacionados. Segundo a empresa, 154 motoristas estavam na ativa, mas o sindicato estima que apenas 104 estavam trabalhando de fato. “Queremos que as empresas apresentem a escala com o número fidedigno de trabalhadores. Não temos como atender com precisão o percentual de 70% se não sabemos exatamente qual é o número real de trabalhadores na ativa”, diz Ronaldo José da Silva, presidente do Sinttromar.

O dirigente Emerson Viana Silva em entrevista ao repórter Márcio Gomes, do Pinga Fogo, em frente à garagem da TCCC – Foto: Luiz Fernando Cardoso/Sinttromar

 

Miguelitos e segurança

O Sinttromar informa que a notícia do uso de miguelitos ou similares para furar os pneus dos ônibus é inverídica, pois não houve qualquer registro de danos ao patrimônio. Segundo o sindicato, a acusação é leviana e precisará ser provada. Medidas cabíveis estão sendo analisadas.

No caso da força policial, procede a informação de que, novamente, as empresas se valeram de forças de segurança (pública e privada) para intimidar os trabalhadores. Pela manhã, na garagem Sul da TCCC, na Avenida Monteiro Lobato, em certo momento havia mais seguranças do que grevistas.

“Para isso eles têm dinheiro. Deveriam colocar seguranças em linhas perigosas, em que há assaltos e agressões aos motoristas, como ocorre com frequência nas linhas do Cidade Alta 415 e 416 (via Tarumã) e 178, para Floriano”, diz o dirigente sindical Rick Figueiredo, que é motorista da TCCC.

Negociação

Ainda não há previsão para o fim da greve. Segundo o presidente Ronaldo, o diálogo está aberto por parte do sindicato, mas, até o momento, TCCC e Cidade Verde se recusam a negociar. “Estamos à disposição, mas ainda não recebemos nenhuma proposta”, informa o líder sindical.

Como última alternativa para garantir os direitos dos trabalhadores, o movimento grevista – aprovado em assembleia da categoria, no último dia 9 – reivindica a renovação do acordo coletivo de trabalho (ACT) com reajuste salarial e com a manutenção do vale-alimentação e da cesta básica; além do pagamento da participação nos lucros e resultados (PLR), que pode ser parcelada.

Antes da greve, os trabalhadores já haviam feito concessões por causa da crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus. Salários e jornada foram reduzidos, com a adoção de banco de horas e a antecipação de férias. Além dessas perdas, previstas nas medidas provisórias 936 (convertida em lei) e 937 editadas pelo governo federal, também houve redução do vale-alimentação dos funcionários do transporte público.

Em tempos de pacote de arroz a quase R$ 40, a categoria sinaliza com a greve que não aceitará que o prejuízo que TCCC e Cidade Verde tiveram na crise sejam repassados aos trabalhadores. Isso significaria, diz Viana, mais dinheiro no bolso dos empresários e menos comida na mesa das famílias dos funcionários.

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