TCCC insiste em atribuir ao sindicato greve que ela própria gerou
As empresas TCCC e Cidade Verde, que operam o transporte coletivo urbano e metropolitano e pertencem a um mesmo grupo, insistem em atribuir ao Sindicato dos Motoristas Rodoviários de Maringá (Sinttromar) uma greve que elas próprias geraram, quando deixaram de pagar os salários de janeiro aos funcionários. A paralisação entra em sua segunda semana, nesta segunda (15).
Além de espalhar fake news (com a ajuda de comunicadores patrocinados) sobre o sindicato estar na organização da greve, a concessionária tem induzido a Justiça ao erro, ao cobrar do sindicato – por meio de liminares – a retomada do serviço. Em cinco situações distintas, essa inverdade foi desmentida, ficando claro que a responsabilidade pelos prejuízos à população pela falta do transporte coletivo é toda da empresa. Vejamos as provas:
- Nos dias 4 e 5 de fevereiro (quinta e sexta), funcionários da TCCC estiveram na Prefeitura de Maringá para pressionar o prefeito Ulisses Maia (PSD) a ajudar financeiramente a empresa, que não teria dinheiro para pagar o salário de janeiro. Ligados diretamente à empresa, por ocuparem cargos de confiança, esse pequeno grupo de funcionários ameaçou paralisar o serviço se o prefeito não tomasse providências. O salário deixou de ser pago pela TCCC, levando os trabalhadores a cruzarem os braços de forma espontânea, sem assembleia ou qualquer organização sindical;
- Desde a segunda-feira (8), primeiro dia da paralisação, o Sinttromar tem informado à imprensa se tratar de uma greve gerada pela empresa e iniciada de forma espontânea, sem participação da entidade sindical. Esse fato foi confirmado pelos trabalhadores em vídeo publicado nas redes sociais na terça (9). Ainda assim, parte da imprensa patrocinada pela TCCC prosseguiu com a divulgação de fake news sobre a greve;
- Nos primeiros dias, a greve atingiu adesão de 100%, levando a Prefeitura de Maringá a cobrar da TCCC/Cidade Verde a circulação de ao menos 30% da frota. Numa greve tradicional, a entidade sindical teria sofrido essa cobrança, e não a empresa. Nessa situação, fica evidente que a administração municipal compreende que a responsabilidade pela paralisação é da TCCC/Cidade Verde;
- Cumprindo ordens da Justiça, uma oficial de justiça acompanhou, nos dias 9 e 10, o cumprimento de uma liminar obtida pela TCCC para que dirigentes do Sinttromar não impedissem a saída dos ônibus das garangens. A liminar se mostrou inócua, uma vez que o sindicato não está na organização da greve, segundo constatação da própria oficial de justiça;
- O sindicato passa a cobrar da Prefeitura de Maringá providências contra a empresa por denúncias de locaute pela TCCC. Essa prática, proibida por lei no Brasil, ocorre quando empresário deixa de oferecer condições básicas de trabalho aos empregados (como a falta de salário) em razão dos próprios interesses, e não dos trabalhadores. É sabido que a empresa alega prejuízo de R$ 24 milhões na pandemia, cobrando do município compensação financeira.
No fim da tarde desta segunda (8), primeiro dia da greve, a empresa acabou encontrando recursos (que dizia não ter) para pagar integralmente o salário de janeiro. Isso ocorreu após a administração municipal exigir que a TCCC apresentasse balancetes que comprovassem que ela reunia condições de prosseguir prestando o serviço na cidade. Naquela altura, o prefeito Ulisses Maia já havia cogitado, nas redes sociais, a possibilidade de rompimento do contrato.
Contudo, o pagamento não resultou no fim da greve por conta de um passivo salarial anterior gerado pela empresa. A categoria passou a cobrar, como condição para encerrar a greve, a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), demanda que está pendente há quase um ano. Ou seja, nesse período, os motoristas estão sem receber a reposição da inflação sobre seus salários, o que deve ser concedido anualmente, ainda mais em tempos em que as famílias passam dificuldades com os altos preços dos alimentos, do gás de cozinha e dos combustíveis, por exemplo.